O amor não é coração
Nem sequer paixão
Não é alma gémea
Reunida noutra, pela mão
Sequer é, metades incompletas
Que nele, e por ele, se recompletam
Nem mesmo duas flores, irrequietas,
por falta de pétalas, que, por
magia,
somente dele desabrocharão
E, nem mesmo, real será
Irreal simples pulsão
Sentimento tão final
Que no fim, afinal não,
ou talvez não...
O amor, disto é quase nada
Antes um subtil pressentir,
Num ponto de (re)aparição,
Com, mas sem, perdição,
em ebulição...
E é neste remoque
Sem rendição
De tudo e quase nada
Como se fosse pitada
Temperada em negação
Que se insinua o que ele é,
ou talvez não...
Um simples jeito, um (re)toque
Que nos faz querer,
não querendo, perder pé,
sentir choque
Um beijo que não nos sai do peito
Mas que arranca de nós, sem nexo,
um reflexo, um refinado trejeito
E um no outro, ainda que em
desconexo,
Vai-nos fazendo sentir, em
permanência,
Mesmo sem o ter, ilusão de sexo
Em irreal, mas doce latência...
O amor não é, mas é, complexo
Basta-se, tão afirmativamente,
Mesmo sabendo-nos em negação,
saber-nos levados, tão completamente,
Na sua ilusão, ou talvez não...
Talvez não...