Nasci por dois acasos
Naquela minha casa
Onde nunca se amava
Como eu hoje gostava

Vivi alheio ao destino
Nessa hoje longe casa
Onde sequer se educava
O que eu então pensava

Enganado sem me pensar
Acompanhado me julgava
Em criação sem mal saber
Que à sorte me abandonava

Deixei bem, sem me querer
A casa, que mal sem saber
Eu já bem então excomungava
E hoje, por a tão mal reviver
Penso agora que mal pensava

Ainda bem sem me saber
Julgando ter deixado a casa
Dois casos sérios vi nascer

Vivem e sonham numa asa
Vou deixar-lhes outra casa

Pois somente ao me reescrever
Educando o que me enganava
Abandonei de vez essa morada
Que ingenuamente me atormentava

E se me perguntarem
Porque o escrever?
Não valeria esquecer?
Não houve bem a dizer?

Respondo, por querer
Perdoar o não saber
Esforçado de bem fazer
Que até o acaso perdoava

E se a simples memória o faz
Já não tão bem o desagrava