Venho da minha terra.
Trago comigo, sem complexos, a urbanidade dos modos simples.
Gosto de experiências vividas, não sou de narrativas, as minhas palavras não têm poesia.
A viagem que faço é longa, de quase uma jornada no campo.
Quando as portas se abrem, sinto de imediato a falta do ar silvestre no odor do vento e, embora os sinais de maresia se misturem na poluição, são insuficientes para me fazer esquecer a minha casa.
Ainda que saiba que, nada, nunca, me fará esquecer a minha casa, tinha a esperança de sentir um mínimo de pertença no primeiro embate, mas não, sequer uma réstia.
O comboio já partiu para outros sentirem outras coisas quando tiverem de sair, diferentes, necessariamente diferentes.
Estou no meio de um chão de pedra, que é semi-envidraçado, mas sem transparências, uma mala numa mão e noutra um saco esfarrapado, como o envidraçado, opaco e apenas meio desfeito.
Ainda não refeito, desorientado e sem direção, começo a andar para umas quaisquer escadas que deixem adivinhar a luz da cidade.
As pessoas à minha volta andam, melhor, correm apressadas, com tal azáfama como a que apenas vejo nos poucos dias de festa na aldeia.
Mas eu deixo-me vencer, ficando para o fim, não tenho pressa nem venho em festividade, aliás, quanto mais me demorar, mais lentamente fica para trás a saudade que de ti, mas também de mim, já sinto...