(Texto publicado originalmente em 15 de Novembro de 2011)
Quando ventos, apenas ventos, se nos oferecem à face, gretando os olhos, gelando os lábios e fazendo-os sangrar, somente sangrar, palavras tristes, acabrunhadas. Quando só chove, de fora e por dentro, e a alma é arrastada pelo turbilhão de redemoinhos de desespero que se inebriam de nuvens negras, apenas tão negras. Quando a estrutura, toda a estrutura, abana, é quebrada, por terramotos, nunca sossegando por receio de réplicas constantes. Quando tudo é colina frígida, mesmo o plano despido de neve, e sempre, sempre, nunca de outra forma, se formam avalanches por simples gota de água gotejada em terreno minado. Quando tudo parece, mesmo tudo, porque doutro modo se não nos oferece, simplesmente perdido rumo a valeta sem fundo. Nada, mesmo nada, nunca nada, chegou ao seu fim. Porque um sopro, um único sopro, ainda se pensado como o último, ou mesmo o final, exalado, ainda que com dor, timidamente começa, sem que o saibamos, a formar furacão que impiedosamente quererá afastar toda, porém nunca toda, intempérie que nos levou à plena, mesmo plena, tão absorvente, descrença de tudo, mas apenas de quase tudo, simplesmente, tão só simplesmente, porque o não sabíamos.