Não há nada que contemplemos com maior religiosidade do que o tempo, nem sequer plenipotenciárias divindades. Aquele que rotineiramente nos vai faltando, para fazer o que pensamos querer, o que ansiamos ter ainda por viver, se bem que apenas sobrevivamos a maior parte do tempo, e o que se nos atravessa o corpo, por vezes demasiado soalheiro, quando uns queriam o seu contrário, outras excessivamente tempestuoso, quando outros clamam no seu oposto por maior brandura dos tempos.

Nunca havemos de nos entender com o tempo, discutimo-lo, com e sem tempo, mas acabamos a ele subjugados, temendo-o até. Por isso nos é mais fácil procurar abrigo em falsos deuses e nas muitas invencionices de seus escolásticos, num processo de alienação ancestral, e progressivo, que percorre e percorrerá o tempo, até ao ponto em que dele mesmo se ditará o fim dos tempos.

Eu por mim vou gozando, no entretanto, um dia de sol ateu, ainda que não fosse isso o que pensava querer fazer hoje do meu tempo.