Não reconheço o dom da criação a deuses
Talvez apenas às pedras e à água
Sinto-lhes imerecida pena
Mas não lhes tenho mágoa

Tudo existe por razão absoluta de nada
Todos, apenas, sobrevivem
Querendo porém muito, alguns
Tanto saber porque vivem

Vivem porque tem de ser
Existindo, somente, para morrer
O que há além da raia deste pensamento?
Não vale a pena querer saber
Contudo, como o lamento

Mas o universo
Infinitamente perverso
Não se incomoda em nos dizer
Que nos temos em demasiada conta
Por pensarmos que haverá razão de ser

Expludo cada vez mais nesta convicção
De que não há nada à escuta de ninguém
E se ela se move e ele está em expansão
Tudo se deve à roda da aleatoriedade
Que nos força a existência sem além

Tese por qual invoco e desafio
Um qualquer candidato a deus
A desmentir esta minha triste verdade!