"Auto-Análise"

Dizem-me coisas de mim
Que sou bom
Pai, filho e homem
Que sou inteligente
Como há poucos
Que sou trabalhador
Como não há muitos
Que sou amigo, afável e respeitador
Que sou muitas coisas meritórias
Enfim, talvez o retrato de um anjo
Mas senti-lo?
Realmente estimar-me?
E se tudo for realidade?
Poucas vezes
Vezes de menos!

É mais um demónio que me habita
Negando quase tudo o que me dizem
Fazendo de mim negatividade suprema
Gerando obsessão de tudo ser contra mim
E em muitas alturas deixo de saber viver
Vivo morrendo aos poucos, alheado do bom
E não deixo viver à volta em paz
Trago-lhes bolas de fogo
Se não existirem moinhos de vento
Para dar luta valente
Não me acalmo até os inventar
Sou mais quixotesco que o criador dos ditos

Que fazer?
Começar por percebê-lo é um começo
Deixar correr-me ao vento sem vislumbrar pás míticas
Uma continuação
Olhar o Sol mais vezes
Um retempero
Sentir as nuvens
Uma clarificação
Mudar-me
Um projeto
Díficil
Contínuo
Preserverante
Mas não de impossível conclusão

Porque entre demónio e anjo
Prefiro o segundo
Aceitá-lo em mim com imperfeições
Governar-me bem em frustração
Remover-me do Diabo da Cruz
Que demais carrego e arremesso
Chega!
Basta!
Não mais!
Não sejas mais assim rapaz!