"Intervalo"

Em tarde de cedo sempre partir
Recolheram-se no horizonte as despedidas
Deixado à sorte, um sorriso por existir
Em mãos soltas, mas não desunidas

Os olhos foram a seguir
Aprisionaram-se numa vidraça
Os lábios gesticularam o seu papel, sem se ouvir
Escreveram pelo bafo palavras que os entrelaça

Entre o ter e o não querer ir
Acenaram timidamente o ensaio geral do adeus
Brisa que lhes separou o palco, sem dividir
Tornou-os aos bastidores de si e à peça dos seus

Cedo se lhes anoiteceu
Naquele teatro nunca entardeceu
Cedo novo acto amanhecerá
E ainda mais cedo, num breve intervalo, um a outro virá