"Que se Cante a Vida"

Quando se contraem palavras
Se hesita e economiza no dizer
Se esconde ou mascara o sentir
Estamos sempre a nos mentir

Quando só o silêncio é paz
O isolamento tranquilidade
O esquecimento fiel remédio
Entregamos a felicidade ao tédio

Quando se abomina toda a rotina
Se nos queixamos apenas em surdina
Se não nos mudamos no hábito
Despimos a má e a igualmente boa sina

Quando tudo isto se junta
Se convoca e reúne, triste e alegremente
A conclusão lavrada, em continua acta:
Abandonei-me na cruz do sacrifício
E comigo fui pregando outra gente

E, vendo bem, não há razão para que se o queira
E muito menos para que assim o seja
Porque se há quem só assim o sinta
Não creio que haja alguém que, realmente, o deseja