"Melancor"
Olho para o céu cinzento por pupila de lente negra. Percorre-me um pensamento de inexistência, de plena vacuidade. Fico tolhido em desesperança como se sentindo que até as nuvens desceram para se adensar, levando o pouco ar de que me rodeio. Mas anseio deveras que as nuvens me envolvam e respirem tudo o mais que exalo, que me exorcizem pela fúria da água o desfalecimento da crença, que me escondam de mim quando não me encontro. Tenho dias assim, em que as lentes do descernimento e da razão, por muito que procurem, não alcançam ajustar a miopia da minha vísivel frustração. São dias em que tudo o que foi, e será, estão cobertos por um manto de tristeza e de falta de encanto. São dias em que o tempo me diz, de forma negra, que o que marquei no tempo que percorri, e o que sofri, terá simples destino de pó e cinza esquecido na alegria dos que estão, e ainda hão de vir, por muito próximo de mim que eu os havera achado ou eles próprios assim o venham a julgar. E na profunda densidade desse vazio é-me absorvida a força que em tempos desflorou a cor da palavras.