"Regressão"

Depois do último sopro não me mirem com tristeza
Olhem brevemente e afastem-se com um sorriso
Que a outros dirá ter valido e valer a pena

Não me envolvam em vestes de falsa beleza
Não me encerrem em quatro tábuas tamponadas
Deixem-me solto como o sopro que se afastou em leveza

Não se reúnam em silêncio de respeito e veneração
Não vale a pena deixar de viver melhor um pedaço de vida
Trocando-o por força de acto que vos impõe a tradição

Deixem-me pois só comigo e já de mim fora
Não montem cerimónia de despejo ou de pó
Pois de breve partida fui mas não me julguem ido embora

Respeitado o desejo de libertação, pairarei por aí
Continuarei sempre escrevendo suposto último verso
Segurando bilhete de regresso de vitalícia renovação
Para mais uma, e outra, volta na roda do universo