"Escutar"

Ah, como é bom deixar dizer!
Oferecer o silêncio dos olhos
Às palavras que se vão cansando
Pelo eco que as ecoa na mente
Dos que querem passar razão conveniente

Ah, como sabe bem não responder!
Deixar esticar sem réplica o argumentário
Colocar secura de deserto em garganta isolada
Até ao ponto em que se rompe o sentido
Deixando o dizente confuso e comprometido

Ah, como se nos oferece no fim o prazer!
De ter dado corda até seu mecanismo quebrar
Para depois, calmamente, no exausto orador
Lhe deixar uma ou duas simples frases
Ainda que não marquem contraponto
Que marcam tão fundo o ermita falante
Que por mote próprio, ou alheio, despejou incessante
Oratória que sabe que os que o escutaram
Sabiam que ele sabia ser redundante