"Dias De Tudo E De Nada"

Hoje é dia de nada, nem de pretensos santos ou deuses, nem de aniversários. É só mais um dia, que nem sexta-feira será ou, se o é, é-o apenas porque assim em tempos o marcaram. Assim como o próprio dia também não o seria, se não tivesse sido igualmente convencionado assim ser, como um 'dia'. Os dias serão sempre de nada,  ainda que nos digam ou imponham que hoje, ou noutro diverso, é dia de evento, um qualquer, há-os aos montes e para os mais diversos gostos, mesmo os mais repugnantes. Inventam-se, convencionam-se, agendam-se, comemoraram-se, com uma pulsão crescente, dias de tudo, mas são dias de nada, mesmo nada, especialmente se dedicarmos as nossas forças e metas de vida para o suposto tudo desses dias. Mas há quem assim o não faça, e, mesmo que comemore algo em dias de nada em jeito de fraqueza de quase tudo, sabe apanhar no vento, soltos e perdidos ao sabor do que queiramos deles fazer, os dias de tudo em que outros fazem quase nada. E esses dias, aceitando a convenção da medição do tempo sob esta forma, tempo esse também relativamente quase nada, são, simplesmente, todos os dias, até os dias que, por muitos definidos como o dia de uma qualquer sacramental celebração, de nada serão se doutra forma não forem encarados.