"Ira"

Sinto peso, não físico, daqueles que se não tem nas costas de nada
Sinto um amontoado psicológico que me não dá descanso ao ser
Estou assoberbado de inquietações vividas e vindouras
Estou desfeito, apesar de refeito e dito pronto para mais salmouras
Trago suspeita de maleitas internas, essas físicas, mas não me lhes concedo
Trago uma maldita suspeição de desconfiança alheia em tudo o que me rodeia
Sou apenas um ponto de cartão já perfurado vezes sem conta que e se chateia
Sou pois um cartão de visita de que não se recomenda visitação
Tenho em mim raiva e zanga acumuladas que superam minha dimensão
Tenho a tristeza de viver na incerteza de que conseguirei ser eu
Que se o eu que realmente sou soubesse deveras quem eu afinal era
Que se o cordeiro que julgo ter em mim se revelar ser antes fera
Não saberei redimensionar a minha cabeça ao molde de uma ideal esfera
Não passando a paz que os outros merecem porque se lhes esmera
A vontade de me sentir sem transtorno e não sempre pendurado em qualquer cruz
Porque eu próprio me deprimo em contínua perversão que parece me seduz
Possesso por carregar nas costas da mente o que não deveria ser fardo
Desaustinado por não ter calma e bonomia de perceber que ao meu lado
Se coloca muita gente que me quer apenas ajudar a sentir aliviado
E que não lhes dou o direito ao erro porque a mim de tal modo me puno
Descambando na injustiça de ferir como cordeiro que se sente acossado
Pela fera que o persegue nas sombras de todos os seus prados
Que espicaçado profundamente solta um falso lobo irado
Que se devia saber afortunado por poder amar sem sentir o peso de ser amado
E evitar morder a jugular dos que continuamente o não querem ver tresmalhado