"Comoções"
Tolos, tontos, plenamente ridículos e alheados. Esvaem-se por todos os sítios, sendo coisas de nenhures, dispensando e fugindo do tempo que lhes oferece o meio para o essencial, nada buscando ou querendo tudo menos o que deveras interessa. Dispensa que deixa o amor paternal esquecido e desorientado, que vai gerando projectos de futuros adultos destinados a obra manca e sem bases de sustento perante inevitáveis abalos. Fuga que abandona companheiras das supremas emoções, cambiando-as por realizações materialistas, esquecendo o primado da amizade, solidariedade e carinho, pervertendo-o por paixões carnais ocas de sentimentos. Nem guardam lembrança, mesmo nostálgica, pelos já idos, incluindo seus próprios eus abortados no percurso, como se o futuro estivesse fadado a olho cego perante as marca deixadas pela pegada das almas. Idiotas, asnos, profundamente desgraçados e sem rumo, apesar de irem por vários cursos. Olvidam o fundamental que o tempo de vida lhes procura mostrar ser óbvio. Arrogo-me de não estar no rol dos ditos, apesar de minha visão ter estado severamente deturpada e nunca ser, forçosamente nunca, totalmente límpida, sei hoje que o que realmente interessa, e sempre me interessará, flui nas emoções que os relógios singela e compassadamente revelam para serem captadas, nutridas e vivenciadas, por isso ando intensamente comovido pois fui agraciado pelo dom de perceber o real sentido do tempo e pela sorte de conviver intimamente com idênticos sábios.