"Redescoberta Plena Dos Sentidos"
O trilho da vida sujeita-nos, não raras vezes, à tomada de decisões eivadas por estados de inconsciência guiados pela ilusão dos sentidos, impelidos pelo desejo de concretização de sonhos de infância. No percurso, modelamos ideais de pessoas e de contextos que projectamos e utopicamente queremos visualizar em quem, e no que, se nos penetra na intimidade. Em dado momento, sempre diferente e com contornos distintos consoante o cansaço do caminhante, apercebemo-nos dos alçapões, desilusões e traições aos nossos princípios a que nos submeteram e a que nos fomos também, certas vezes, curvando. Na realização plena do erro da fatalidade que sublimámos, agora já em quase consciência, porque uma certa dose de ilusão nunca deve ser abandonada, nem sempre se desprende o temor, sequer do receio, de nova entrega em total rendição dos sentimentos perante a, tão real, tão certa e inevitável, porque doutra forma não a vislumbramos, expectativa de novas frustrações que nos conduzam, e não poucas vezes o fazem, à plena descrença da valia do sentidos amorosos. Há viajantes que se perdem nos escolhos das ilusões desmascaradas e não encontram regresso, ou pelo menos assim o julgam, aninhando-se como pérolas engavetadas que não se deixam admirar. Há outros que, sem que possuam necessariamente menor leveza de sentimentos, ousam continuar a expor seu brilho, mas que em face de novos descarrilamentos acabam em igual morada, vedando portas e janelas à entrada de qualquer luz. A uns e outros, que não se lhes esmoreça a esperança da redescoberta plena dos sentidos. Porque mesmo se o Sol, em tempos, ainda que prolongados, os deixou de agraciar, haverá sempre algures o brilho de olhos que, quando mirados por dentro, revelarão, com plena consciência, que a ilusão de amar e ser amado profundamente pode ser tão real e intensamente atingível.