"Continuando Pessoa"

O poeta é usurpador
Toma seu o sentimento
Daquele que, escondedor
O anseia solto no vento

O poeta é encenamento
Criador de palcos de utopia
Revê guiões de lamento
Destilando finais de alegria

O poeta é também ilusionista
Deturpador de mentes e visão
Possui dom de alquimista
Na dor que transforma por sua mão

O poeta é ainda pintura
Refinando às palavras o traço
Esboça imagem que perdura
Apondo-lhe texto sem tela de embaraço

O poeta julga-se omnisciente sentidor
Esquizofrénico de diversas personalidades
De tudo escrevendo, não o sendo sabedor
É arrogante modesto e actor de banalidades