"Que Ninguém Nunca Durma"

Perante oratória de gente vazia, mas não oca, porque repleta de subliminares agendas, abafem vossos bocejos e vociferem despertos em indignação. Mesmo que vos só brandam chicotes na alma e vos sujeitem a mente a eterno pau que nunca vai, querendo anestesiar vosso conforto, tornem a dor em rasgo da carne e fiquem acordados pelo sofrimento. Se vos acenarem promessas de ressuscitação, buscando apaziguamento pelo vosso descanso em eterna esperança de melhor acordar, não adormeçam confiados em falsos Lázaros. Mesmo que vos retirem o sol e vos espalhem o breu das noites por todos dias, não soçobrem nunca por sono vilmente induzido. Ainda que o cansaço acumulado de contínua espertina, por necessário combate aos tidos espertos, faça ansiar o render de vossas pálpebras, procurem a luz intensa doutras estrelas ainda não sonegadas e escorracem o abraço dos que se acham dotados por Morfeu. Se nada, mesmo nada, conseguir suster-vos de pé, arrastem-se em exaustão projectando-vos sobre os que vos querem derrubar, forçando sua queda prévia. Se, ainda assim, sobrarem usurpadores de luz sequiosos pelas restantes estrelas, confiem que esses, sim, um dia adormecerão eternamente, quando, em última tentação, procurarem subtrair por fim a lua e nada mais lhes for oferecido do que o aprisionamento no seu lado negro minguado, tão fiel espelho de si mesmos. O que sobrar da lua, agora despida da sua parte, felizmente mais do que nunca, invisível, ressuscitará, por sucessivos ciclos cheios, novos e crescentes, os que heroicamente tombaram perante os caçadores de astrais, destes não ficando vestígio pois seu pó imundo será absorvido por buraco negro que cavaram.