"Depressão"

Mancha de negritude absoluta
Do sol absorvendo toda luz
Tiraniza até a mais impoluta
Alma em que injecta seu pus

Rasgo profundo em ferida invisível
Que dos olhos vai sangrando
Mascara o trivial de impossível
Pelo prazenteio de ir matando

Cuida de tudo doer, mesmo o inexistente
Nas peças encenadas de falsa realidade
Implodindo o ser e não ser tão intensamente
No rastilho de obsessão que se torna única verdade

Reforçada em ignorância e incompreensão alheias
Alimenta redemoinhos e espirais de reclusão
Aprisiona a beleza, desprendendo caras feias
Que, impiedosas, não se concedem perdão

Monstro peçonhento no interior alapado
Mestre de desgraças e plena confusão
Rejubila vitorioso, se não derrotado
Pelos que enfileira em destino de caixão